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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

CRÓNICA DA CULTURA

RENZO PIANO: um dos superiores expoentes da arquitetura mundial

  


“A minha inspiração veio da terra…e, claro, de Paul Klee…e a poética das suas pinturas”

 

  


Sempre que olho as obras de Renzo Piano, a minha inquietação acerca do facto dos seres terem abdicado de compreender o mundo como um todo e o terem aceitado em especialidades que não comunicam, a minha inquietação, dizia, desespera, face ao loteamento mental que se regista no agrado da atual sociedade. 

Renzo é um excelente exemplo de quem nunca corporizou uma visão de perspetiva limitada.

"A diversidade do conhecer é um valor, não é um problema". R.P.

  


A paisagem da pedra é a melhor prova de que a Natureza vive de um diálogo entre presente e passado e que tem medula comunicante, e há que aprender com essa comunicação como quando se vai a um museu e se perdem os olhos para melhor se reencontrarem, tal foi a aproximação e a emoção que provocou.

A arte propõe-nos também a reflexão de que aos méritos da especialização se deve estar atento, sob pena dos nichos se sobreporem ao somatório do qual tudo é feito.

Não podemos negligenciar o que fica de fora do julgar que se entende manusear com mestria.

Ortega Y Gasset já chamava a atenção que a emergência do “homem-massa” surgia cada vez mais pelo aparecimento de cientistas e menos de pessoas cultas.

A especialização é a chave de muitos saberes, é certo, mas não pode ser ela a fragmentação que impede o ser de compreender que, se se distanciar, o horizonte do espaço de linguagem onde passará a viver é um superior alto e rotundo.

Certo é que compreender a realidade à volta, implica a necessidade intrínseca, de transmitir conhecimento.

Renzo Piano, também se refere à arquitetura como um gesto cívico, devido ao modo como afeta a vida diária de todos nós, além de ser igualmente nesse espaço que a história se desenrola.

Renzo tem tido a grande capacidade de se reinventar e de compartilhar a criatividade debatendo, escutando, comunicando o que afinal também constitui parcelas do imaginário público.

A sua ideia de fazer “um edifício voar”, criando algo com a gravidade zero, retira a teima de o colocar no compartimento da arquitetura high-tech ou outra.

Os seus projetos não costumam ter características que se repetem.

  


Arquitetura é arte, mas arte bastante contaminada por muitas outras coisas. Contaminada no melhor sentido da palavra – alimentada, fertilizada por muitas outras coisas.

R.P.

  


The shard conhecida por
London Bridge Tower: outra proposta de Renzo Piano por Paul Klee e por toda a poética.

 

Teresa Bracinha Vieira

CRÓNICA DA CULTURA


Diria que saber pensar é o vocativo, a circunstância vital que dá contexto à nossa existência. A insuficiência do esforço é o que nos torna arrogantes na aproximação ao saber pensar. Julgo que teremos de nos ensinar a ler a partir de um nível humilde para avançarmos passo a passo e evitarmos cometer os erros das grandes passadas na vida, que não são mais do que grandes golpadas à vida que se diz não querer viver. Queria dizer que muitas vezes senti que só o ensino é a transmissão de uma fruição, só o poema em qualquer realidade que se manifeste, é superior à falsidade, até aquela que, na súmula, entende ter ganho em todos os tabuleiros do bel canto, ou essa outra que uiva mais alto do que os lobos, e atraiçoa a amiga ou cativa o estranho com fantasias de rapto, afinal, vulgar, pois a solidão escapou-se a ser entendida por falta de uma cultura articulada, por não repudiar inequivocamente uma mesquinhez à qual se justificou ser por amore e con amore.

Quelle effrayante responsabilité, pour nous!

Em resumo, digo que proponho um conjunto de pensares sobre o pensar do pensar. Proponho o pólo oposto até hoje não alcançado, e, façamos sim, tudo de novo, entre a inocência e nós próprios. Tentem-se as novas formas de literacia humanística, e atente-se que são musicais e não textuais ao raciocínio. Então talvez o discurso nos seja incapacitado pelas mentiras da moral que afinal tanto deixámos que nos enfeitasse, tanto quanto o ato de julgar quem menos merecia e que afirmámos, enfim, não fazer a ninguém a partir da consciência do nosso próprio processo de crescimento. Saibamos também desembaraçar as metamorfoses dos valores depois de despidos das análises das suas causas.

Na primeira chuva que vier, uma cerimónia evocará outro contrato cultural, outro recurso que nos será acessível, se para tanto: nós!

Exclamação à nossa sorte! a penetrar a grande profundidade e talvez não inteiramente má.

 

Teresa Bracinha Vieira

Janeiro 2018

A FORÇA DO ATO CRIADOR

 

O Centro Georges Pompidou.

 

'Architecture must concern itself continually with the socially beneficial distortion of the environment.', Cedric Price 

 

Logo após os acontecimentos de maio de 1968, Georges Pompidou depressa percebeu a importância da cultura ao representar os valores mais elevados do estado. Foi em 1969, que Pompidou, num ato de alta dedicação cultural, decretou que, um novo tipo de centro cultural, deveria ser construído no centro de Paris. Um concurso público foi assim aberto, de maneira a criar um novo centro de vida urbana, em Beaubourg.  O concurso pretendia responder às seguintes exigências do programa: nova biblioteca, instalações para exposições temporárias, um novo museu nacional de arte moderna, um centro de design industrial, cinemas e espaços para performances e um espaço para o IRCAM (Institute for Research and Coordination in Acoustics and Music). 

 

Em 1971, o júri, constituído por Jean Prové, Philip Johnson e Oscar Niemeyer, atribuiu o primeiro prémio à radical proposta de Renzo Piano e Richard Rogers, por ter sido a única a dedicar metade da área de implantação a um espaço público. Piano e Rogers pretendiam eliminar noções de espaço e tempo, numa estrutura construída constantemente flexível. Uma estrutura neutra e fixa seria então criada, de modo a ser capaz de incluir as várias partes mutáveis do programa. Todos os espaços máquina ou servidores do edifício seriam colocados como elementos de cor nas fachadas. Piano e Rogers desejavam, por isso, levar ao extremo a ideia de Louis Kahn ao conceber a existência de espaços servidos e servidores. E ao monumentalizar-se a estrutura e os seus serviços fez com que o conteúdo interior, que ao ser flexível, deixasse de ter uma identidade permanente.

 

'A taste for the polemical prevailed, and form was used symbolically to destroy the typical image of a monument and replace it with that of a factory. The factory as a place for making and, therefore, also for making culture - that was the aim.', Renzo Piano

 

Ora, a proposta de Piano e Rogers consegue concretizar em simultâneo a animação tecnológica das colagens dos Archigram e a espontaneidade do Fun Palace de Cedric Price.

 

Sem dúvida, a chave da proposta para o Pompidou está para além da vida mutável do seu interior. A forte interação do edifício com o contexto urbano, possibilitada pela criação da nova praça, permite criar relações e ligações completamente novas e estimulantes, deixando de ser um mero objeto estéril no espaço. A proposta de Piano e Rogers consegue sobretudo sublinhar que a cultura é assim aberta, mediadora, capaz de promover o diálogo inter-subjetivo e transportar em permanência valores de liberdade. 

 

Ana Ruepp