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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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O CINE-TEATRO ANTÓNIO PINHEIRO, UM ANO DEPOIS

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Fazemos nova e breve referência ao Cine Teatro António Pinheiro, em Tavira, praticamente um ano depois do texto que, em 3 de setembro de 2018 aqui foi publicado. Tivemos efetivamente ensejo muito recentemente de outra vez o observar. E sem entrar em repetições, há que assinalar dois aspetos contrastantes, ligados ao velho edifício.

Por um lado, as obras de recuperação do Cine Teatro. Quanto a isso, o que podemos confirmar é uma certa intervenção, atribuível à recuperação em si, dado que a Câmara Municipal adquiriu o Cine Teatro em 2001 e durante um largo período antevê-o em atividade. Depois as obras na prática estagnaram.

O que vemos agora é efetivamente uma vasta intervenção externa, que pode ou não conduzir à recuperação do velho Cine Teatro, ou o aproveitamento do que resta em funções ligadas à atividade cultural e de espetáculo – ou não!...   Sendo certo que este período estival não facilita os contactos...

E no entanto, assinala-se novamente a homenagem que, pelo menos desde 1917, a cidade de Tavira prestou a António Pinheiro, lá nascido em 1867, e que na sua brilhante carreira de ator e ainda na sua atuação como docente do então Conservatório Nacional, tanto marcou a cultura e a atividade cénica e pedagógica da época.

O certo é que António Pinheiro morre em 1943. E tal como já referimos, a sua carreira de comediante marcou não só o Teatro Nacional, onde tatas vezes atuou, como participou em iniciativas de renovação do teatro português: e nesse aspeto, temos aqui referido designadamente o Teatro Livre em 1904/5 e o Teatro Moderno em 1911.

O prestígio da época merece então destaque. E basta citar Sousa Bastos, que em 1908 não hesita: “É um dos atores portugueses mais inteligentes e instruídos”, nada menos!... Não admira que Tavira o consagre!

Vamos ver o que resulta das obras no local do velho Teatro.

DUARTE IVO CRUZ

NOVA REFERÊNCIA A TAVIRA: AUTORES, TEATROS, CINETEATROS

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Como se referiu no artigo anterior, prossegue-se aqui a referência a autores, teatros/cineteatros de Tavira, a partir da exposição sobre a vida e obra de Almada Negreiros, no Museu Municipal da cidade, numa participação da Fundação Calouste Gulbenkian. Agora alargamos as referências de mais textos sobre tradição urbana e cultural da cidade.

 

 Assim, temos José Leite de Vasconcelos a citar “as lindas chaminés artísticas”; Raul Brandão a evocar as “armações de revés” da pesca do atum; a descrição da cidade “poupada pelo terramoto de 1755” feita por Orlando Ribeiro e por aí fora, numa seleção de textos de David Mourão Ferreira (cfr. David Morão Ferreira, “O Algarve” in “Antologia da Terra Portuguesa”, Ed. Livraria Bertrand).

 

Ora em Tavira, para além da mostra que decorre no Museu Municipal, e que referimos na crónica anterior, há que salientar Cineteatro António Pinheiro, num edifício cujas origens ou pelo menos a implantação urbana remonta a 1917. Nesse ano, existia efetivamente um então chamado Teatro Popular que se conservou em maior ou menor condição e atividade, até que em 1968 é reconstruído e modernizado. A Câmara adquiri-o em 2001 e mantem-no em atividade, devidamente renovado.

 

É de assinalar aliás a homenagem que a cidade presta a este grade ator, nascido precisamente em Tavira em 1857 e falecido em 1943, e a sua carreira de comediante não deixa de ser recordada em termo da modernização da arte cénica e como docente do Conservatório Nacional, escola que ajudou a modernizar, no que respeita ao teatro, a partir da implantação do Governo Provisório em áreas então inovadoras, como a Estética de Teatro. 

 

Marcou também uma carreira de renovador da encenação no Teatro de Dona Maria II, mas sobretudo, antes, no chamado Teatro Livre que, nas temporadas de 1904/1905 e no Teatro Moderno, este a partir de 1911, renovaram e modernizaram o teatro então praticado em Portugal. São as primeiras iniciativas do que viria mais tarde a chamar-se de teatro experimental.

 

Na “História do Teatro Português”, Luiz Francisco Rebello cita com desenvolvimento estas intervenções de António Pinheiro na modernização do teatro português. Recorda designadamente as temporadas dirigidas em 1905 e 1908 no Teatro D. Amélia e em fevereiro de 1911, aqui numa comissão sobre o teatro - espetáculo em Portugal, destinada a definir as normas de “reforma e adaptação às novas estruturas sociopolíticas”. Dessa Comissão faziam parte nomes de grande destaque na época - e ainda hoje: desde logo António Pinheiro, mas também Bento Faria, Afonso Gaio, Emídio Garcia e Bento Mântua. E acrescenta Rebelo que “a 22 de maio do mesmo ano é promulgado um decreto que veio restruturar o ensino da arte dramática em termos que fizeram do nosso Conservatório um dos mais avançados estabelecimentos da Europa no seu tempo”. (Ed. Coleção Saber - Publicações Europa América, pág. 114).  

 

Nada mais justo pois que Tavira consagre e mantenha o nome de António Pinheiro no seu Cineteatro.

 

 

DUARTE IVO CRUZ

 

LIVRO E EXPOSIÇÃO SOBRE ALMADA NEGREIROS

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A Câmara Municipal de Tavira e a Fundação Calouste Gulbenkian apresentam no Museu Municipal - Palácio da Galeria uma exposição subordinada ao tema “Mulheres Modernas Na Obra de José de Almada Negreiros”. Desde logo se saliente o interesse da iniciativa e a qualidade da mostra, que reúne um conjunto relevante de obras de Almada, aqui devidamente expostas, analisadas e documentadas num livro onde, além de estudos e documentação importante e pouco conhecida no conjunto, representa acervo notável de reproduções de numerosas obras exemplarmente documentadas por textos e escritos diversos do próprio artista evocado e homenageado.

 

Na introdução do livro, sobre a obra de Almada, salienta-se um conjunto de textos e estudos introdutórios de Jorge Botelho, Presidente da Câmara Municipal de Tavira, de Isabel Mota, Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, de Jorge Queiroz, Diretor do Museu Municipal de Tavira e de Mariana Pinto dos Santos.

 

E seguem-se centenas de reproduções de obras de Almada Negreiros, devidamente “ilustradas” e enquadradas por textos do próprio Almada.

 

Porque Almada Negreiros é como bem sabemos um extraordinário artista plástico, um excecional dramaturgo, um notabilíssimo escritor: e tudo isto surge devidamente documentado neste vasto e notável livro-catálogo da exposição.

 

Evidentemente, o que mais sobressai na exposição e no livro é a reprodução do conjunto das pinturas e desenhos de Almada. Mas aqui, queremos sublinhar também os textos que convertem o catálogo numa verdadeira antologia da obra escrita de Almada Negreiros.

 

Salientamos então algumas referências a peças, a teatro e a cinema, a espetáculos, feitas pelo próprio Almada Negreiros e reproduzidas no livro:

 

«Deixa-me passar! Tira-te da minha vida! Já viram isto? Sentinela à vista! Toda a vida sentinela à vista! O meu íntimo devassado!» (in “Deseja-se Mulher”)

 

«De uma vez num passeio, o arco-íris foi quadrado até ao fundo dos raios x para lá do cavalo transparente numa continuidade cinematográfica contornando a apologia feminina sagradamente epiléptica em SS de cio todo realce e posse de reflexos.» (in “K4 O Quadrado Azul”).

 

«Uma noite encontrou-a num cine. Ela não devia tê-lo visto. Seria uma boa ocasião de observá-la desprevenida. Ela porém era invariável.» (in “Vera”)

 

«Um dia “La Argentinita” entra em cena pelo mesmo lado que as outras, faz o mesmo que as outras fazem, dá as mesmas voltas, o sapateado, as castanholas, os couplets, e tudo é diferente, saudável, genial. Nós ficamos com a opinião de que a Espanha artista tem estado mal representada até à chegada triunfante de “La Argentinita”» (in DL- 17.02.1925).

 

E muitas mais são as citações, e muitíssimas mais as reproduções que tanto valorizam este livro, notável “catálogo” da exposição do Palácio da Galeria de Tavira.

 

E a Tavira voltaremos.

 

DUARTE IVO CRUZ