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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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OS TEATROS DE ALMADA - EVOCAÇÃO DE MANUEL GRAÇA DIAS

 

 

Em texto recente, assinalámos a recuperação do Teatro Luís de Camões, hoje modernizado e designado Teatro LU.CA de Lisboa, segundo projeto e orientação dos arquitetos Manuel Graça Dias e Egas José Vieira.

 

E entretanto assinalou-se a morte de Manuel Graça Dias, ocorrida em 24 de março último.

 

O artigo constitui assim como uma homenagem a este grande arquiteto, que tão qualificadamente projetou e acompanhou a realização de diversas salas de espetáculo e demais edifícios de função artística e cultural.

Mas já referimos também outros edifícios de teatro e de cultura construídos segundo projeto de Manuel Graça Dias.

 

Além do Teatro LU.CA, analisamos aqui o Teatro Azul de Almada, inaugurado na temporada de 2005/6, notável na sua estrutura complexa, pela qualidade arquitetónica, pela modernidade mas também pela atividade artística que desde logo o marcou.

 

Tal como marcou, inclusive na denominação, o revestimento em mosaico cerâmico, de cor obviamente azul, o qual deu leveza ao edifício situado numa rua estreita e desnivelada, o que não facilita a atividade e até a implantação de uma sala de espetáculos.

 

 Na descrição que aqui fizemos, e que agora em parte retomamos  e desenvolvemos, realçou-se essa topografia desnivelada, a qual enquadra uma empena curva e cega até à cobertura, numa espécie de triângulo abaulado, que se prolonga até ao telhado.

 

Estes Teatros são pois projeto arquitetónico de Manuel Graça Dias, que aqui se evoca.

 

Mas em Almada a tradição de espetáculos e edifícios de espetáculo não fica por aqui. Vale a pena referir designadamente o Forum de Espetáculos que a Câmara Municipal denominou  Forum Romeu Correia, projeto do arquiteto João Lucas da Silva, situado próximo do Teatro Azul.

 

E sem confundir ainda mais a análise dramatúrgica com a infraestrutura de espetáculo que obviamente lhe é estruturante, refira-se que esta homenagem a Romeu Correia é muito justa tanto no aspeto da dramaturgia em si, como nas raízes locais que expressa ou implicitamente se fazem sentir. E como noutro lado escrevemos, muitas peças são específicas da sua terra tanto num realismo nem sempre ortodoxo como em evocações e reconstituições de teatro popular, ou até de evocações históricas localizadas. (cfr. as referências que fizemos a Romeu Correia no subcapítulo “A Exceção de Romeu Correia” in “História do Teatro Português” - ed. Verbo 2001 e no subcapítulo “Almada – Um Teatro Azul” in “Teatros em Portugal – Espaços e Arquitetura” ed. Mediatexto 2008). 

 

E se quisermos completar a referência a esta rede de instituições e salas tradicionais de Almada, poderemos citar a Sociedade Filarmónica Incrível Almadense, que foi fundada a 1 de outubro de 1848!...

 

DUARTE IVO CRUZ

O Teatro Azul e o Forum de Espetáculos de Almada


EXPRESSÃO DA MODERNIDADE ARQUITETÓNICA

 

Há que valorizar a expressão urbana e arquitetónica da cidade de Almada e a tradição histórica que, no que respeita ao teatro, em muito transcende o conceito, errado e injusto de dormitório de Lisboa. Almada envolve uma dimensão histórica especifica, que remonta a figuras e referencias, por exemplo Fernão Mendes Pinto ou Manuel de Sousa Coutinho, que Garrett simbolizou no “Frei Luis de Sousa” onde a tragédia decorre… E vale lembrar que, precisamente, Romeu Correia aqui situa a sua peça denominada “O Andarilho de Sete Partidas”, evocativa da figura e obra de Mendes Pinto.

E é por isso adequada a iniciativa da Câmara Municipal de Almada, ao recordar Romeu Correia no Forum de Espetáculos a que deu precisamente o nome de Romeu Correia, projeto do arquiteto João Lucas Dias. Evocamos aliás a tradicional Sociedade Filarmónica Incrível Almadense (SFIA): e recordo, desde os anos 50/60 do século passado, espetáculos de teatro e mesmo concertos sinfónicos na sala da SFIA. Romeu Correia, noutro lado o escrevi, é um dramaturgo emblemático de Almada, inclusive pela frequência dos temas respeitantes ao ambiente específico da margem sul do Tejo e das suas gentes. (cfr.”Teatros em Portugal – Espaços e Arquitetura” ed. CNC e Mediatexto pags 97/98).

Quanto ao moderno Teatro Azul de Almada, projeto dos arquitetos Manuel Graça Dias e Francisco José Viegas com participação do arquiteto Gonçalo Afonso Dias e outros: trata-se de um excelente recinto de espetáculos, inaugurado na temporada de 2005/6 e notável pela expressão moderna da sua estrutura arquitetónica e da sua especificidade de casa de cultura.

Também como já escrevi, o nome de Teatro Azul deriva do revestimento em mosaico cerâmico vitrificado de cor obviamente azul, que deu leveza a um edifício complexo, encravado numa rua estreita. E essa topografia desnivelada, digamos assim, enquadra uma empena curva, vasta e cega até à cobertura: uma espécie de triângulo abaulado, passe a expressão talvez pouco rigorosa aplicada a um notável edifício, mas que se prolonga até à cobertura.

Fernando Mota de Matos especifica: “De linhas exteriores geométricas e integralmente pintado de azul, é formado por corpos paralelos, uns totalmente cegos, outros rasgados por grandes vãos envidraçados”… (in “Portugal Património” vol. VII ed. Circulo de Leitores, pag. 303) 

No interior, sobressai uma escultura de bronze da autoria de José Aurélio. Comporta duas salas para espetáculo, a principal, com lotação variável entre 386 e 466 lugares, conforme a natureza do evento, pois foi previsto um fosso de orquestra adaptável à extensão da plateia. E são de assinalar decorações e pinturas de Pedro Calapez, desde logo a chamada tela de boca que muito valorizaram, na sala e no foyer, a modernidade do edifício.

E o envolvimento cultural e social é rentabilizado, ainda, por áreas diversas de espetáculo, cultura e convívio.

Assim, a chamada sala- estúdio, com lotação de 90 lugares, “prolongada” e rentabilizada por um chamado na origem café-concerto com lotação de mais 100 lugares e acesso direto à rua.  Uma galeria de exposições, sala de vídeo e até um espaço para acolher e entreter um púbico infantil. Foi prevista uma área para livraria. E debaixo do palco e com as mesma dimensões, existe uma zona de ensaios que, no limite, poderá “duplicar” a atividade cénica.

A vista a partir do Teatro, através de vastos janelões, valoriza mais o interior. E o espectador sente-se confortável…

Fernando Mota de Matos, em “Portugal Património” (ed. Circulo de Leitores vol. VII) descreve: “De linhas exteriores geométricas e integralmente pintado de azul, é formado por corpos paralelos, uns totalmente cegos, outros rasgados por grandes vãos envidraçados “.

E assim é!

DUARTE IVO CRUZ