EVOCAÇÃO DO TEATRO DA POLITÉCNICA
Começamos por esclarecer que a evocação aqui referida não assume um sentido histórico global, na medida em que o Teatro da Politécnica mantém-se em atividade no conjunto de edifícios que dão acesso ao Jardim Botânico de Lisboa: mas vale então a pena recordar o historial em termos de funções e instituições que, desde o século XVIII, valorizaram a zona urbana, mesmo antes do terremoto de 1755.
Pelo menos a partir de 1759, o chamado Noviciado do Alto da Cotovia, que vinha de tempos anteriores, evolui para abrigar o Colégio dos Nobres. E a partir de 1837 a então recém criada Escola Politécnica de Lisboa reformula toda a zona urbana e dá origem ao que viria a ser a Escola Politécnica, a Faculdade de Ciências de Lisboa, esta a partir de 1911, e agora, o Museu de História Natural e da Ciência.
Este historial é desenvolvido e devidamente documentado designadamente num notável estudo de José Lopes Ribeiro intitulado “O Edifício da Faculdade de Ciências”, publicado em 1987. Aí, para alem da historiografia urbana, arquitetónica e institucional, encontramos vasta documentação relativa às fases sucessivas dos edifícios e das instituições.
Tudo devidamente documentado designadamente pela reprodução de textos, plantas e imagens das sucessivas institucionalidades e funcionalidades dos edifícios.
E nesse aspeto, talvez o mais curioso seja, hoje, a descrição pormenorizada de uma visita do Rei D. Luís à Escola Politécnica, ocorrida em 21 de dezembro de 1877. Recebido com as honras protocolares, ouviu do diretor da Escola um longo discurso, que Lopes Ribeiro transcreve, tal como aliás transcreve a resposta de D. Luís. De notar que a visita foi acompanhada pelos representantes diplomáticos da Inglaterra, da França, da Alemanha, da Rússia, da Áustria e do Brasil.
Entre muitas outras saudações e considerações, disse então o diretor da Escola:
“A Escola Politécnica conta já quarenta anos de existência. Nasceu com as instituições que asseguraram à nação a liberdade. Representante da ideia nova, em oposição às velhas tradições, que tendiam a imobilizar o ensino público, assim como imobilizavam todas as instituições sociais e politicas: consequência remota mas necessária da famosa reforma dos estudos do Marquês de Pombal, que abrira as portas das aulas e academias às ciências naturais, às ciências de observação e com estas á filosofia moderna”...
E segue um longo discurso de notável modernidade sobretudo para a época.
Ora bem: o edifício abriga hoje o Museu da História Natural e da Ciência. Mas mantém uma tradição recente, chamemos-lhe assim, de atividade teatral e de espetáculo, que agora se realiza num edifício autónomo, na cerca do Jardim Botânico, e onde funciona o precisamente designado Teatro da Politécnica.
O pavilhão albergou sucessivas instituições, serviço e atividades da então Faculdade de Ciências, desde a Associação de Estudantes até a uma galeria de exposições que hoje coexiste com a sala de teatro propriamente dita. E esta sala de teatro constitui assim um verdadeiro teatro experimental, expressão antiga mas adequada a criações e espetáculos que poderíamos designar também pela antiga expressão de “teatro de câmara”, até pela proximidade do espaço cénico e do espaço do púbico.
E como vimos, hoje em pleno e qualificado funcionamento, a cargo do grupo Artistas Unidos, este ainda com o mérito de assumir um repertório de qualidade e modernidade, e de editar os textos respetivo e outros de interesse para a cultura teatral.
Basta dizer que a coleção editada pelos Artistas Unidos tem hoje algo como 115 peças de qualidade. (col. Artistas Unidos – Livrinhos de Teatro – ed. Livros Cotovia)
DUARTE IVO CRUZ