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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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OS MAIS ANTIGOS TEATROS DE LISBOA – II – O TEATRO DA RIBEIRA E OUTROS TEATROS REAIS

 

Evoco aqui outro teatro desaparecido de Lisboa, e este certamente o mais malogrado, digamos assim. Trata-se do Teatro da Ribeira, também chamado Ópera do Tejo, edificado por D. José I junto ao Terreiro do Paço, inaugurado em 2 de Abril de 1755 com a ópera “Alessando nella India” de David Peres, e totalmente destruído no terramoto de 1 de Novembro de 1755.

Ficaram descrições do esplendor do edifício e algumas gravuras, não da sala nem da fachada, mas das ruinas que, durante alguns anos subsistiram até ser construído o que seria o Arsenal.

Mas ficou também a memória do esplendor dos poucos espetáculos realizados no Teatro da Ribeira. Gustavo de Matos Sequeira reconstitui esse espetáculo inicial, referindo “o deslumbramento do teatro, pelo edifício e pelo recheio”. E remete para uma notícia da época, que considera “exagero manifesto” – a presença, em cena, “de 400 cavaleiros figurando uma falange de Lancedemónios”. É realmente impossível!...

Mas há como que uma premunição, ou um estranho destino desta sala esplendorosa, nos poucos meses que durou. É que em 6 de Junho sobe à cena um espetáculo evocativo da “Destruição de Cartago”, assim denominado: e estaria programado para 1 de Novembro, uma réplica ou sequência, presume-se, intitulada ”Destruição de Troia”!... é Matos Sequeira que o refere, remetendo para um manuscrito da época, onde se lê que “permitiu Deus que se representasse ao vivo o que vimos em Lisboa”. (Gustavo de Matos Sequeira “Teatro de Outros Tempos, 1933 pag. 290-291).  

Maria Alexandra Trindade Gago da Camara e Vanda Anastácio referem documentação da época, citada por Francisco Coelho de Figueiredo, onde se descreve a magnificência, mas também a menor funcionalidade do Teatro: “a riqueza, delicadeza e bom gosto (…) com quatro filas de camarotes, (…) a plateia muito comprida sem aquela graça que teve o (teatro) de Salvaterra”, sendo ainda assinalado, neste curioso texto que “se achavam os espetadores distraídos com riqueza da casa, que era branca e muito ouro em ornatos, esquecendo-se da cena”! (Maria Alexandra. T. Gago da Câmara e Vanda Anastácio “O Teatro em Lisboa no Tempo do Marquês de Pombal”  ed. MNT 2005 paga. 84).

O terramoto destruiu pois este teatro, mas não destruiu o gosto de D. José pelo teatro. Sabe-se que, na sequência imediata do terramoto, o Rei instala-se provisoriamente naquilo que ficou conhecido como a Real Barraca ou Paço de Madeira, e que de certo modo daria origem ao Palácio da Ajuda, começado a construir apenas em 1794. Mas, dizem-nos as duas autoras acima citadas, “um novo teatro real, agora sim o Teatro da Ajuda, seria construído em 1762. (…) De pequenas dimensões, comportava 130 espetadores. Não tinha camarotes exceto uma tribuna ou galeria sobrelevada, destinada á família real e dois camarotes de boca para o Patriarca e para algum estrangeiro de grande condição”.  (ob. cit. pag. 88).  Refira-se  entretanto que terá existido um anterior  teatro da Ajuda, que Sousa Bastos situa a partir de 1737 e que  seria restaurado ou reconstruído por D. José. ”Sobreviveu” até 1791. (Sousa Bastos, “Dicionário de Teatro Português” 1908).

E diga-se ainda que a tradição de teatros ligado à corte e aos Paços Reais ganha expressão e desenvolvimento sobretudo a partir do seculo XVIII e tem o seu máximo esplendor no Teatro de São Carlos (1793). 

 Mas havia outros teatros da corte. O Teatro de Salvaterra, integrado no Paço onde D. José por vezes se instalava, durou exatamente um seculo, (1762-1862). Nele ocorrerá, na noite de 27 para 28 de Fevereiro de 1824, a morte misteriosa do Marquês de Loulé, plausivelmente assassinado.

E finalmente: em 1778 é inaugurado um efémero Teatro de Queluz, nas instalações do Palácio, teatro esse  demolido em 1790: situava-se na ala que até recentemente alojava os Chefes de Estado estrangeiros. E ficou a tradição de D. Miguel cantar, no Teatro ou numa sala do Palácio de Queluz, árias do “Don Quixote”, ópera de António Teixeira sobre o texto de António José da Silva!

 

DUARTE IVO CRUZ