Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!
Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!
Vale a pena recordar o papel e a função cultural do Teatro Thalia, muitas vezes referido como Teatro das Laranjeiras que se situa em área altamente frequentada. E a sua função e atuação em muito transcendeu as origens aristocratizantes, digamos assim, do Teatro em si, isto desde que foi inaugurado em 1825 por iniciativa do Conde de Farrobo, junto ao Palácio das Laranjeiras, onde morava, e no que é hoje o Jardim Zoológico de Lisboa.
Há anos tivemos ensejo de recordar que o velho Teatro foi inaugurado em 1825, alterado em 1842 segundo projeto de Francisco Lodi, e quase destruído por um incêndio ocorrido em 1862. Só a fachada ficou.
Mas em 2012 o Teatro é reconstruído segundo projeto dos arquitetos Gonçalo Byrne e Barbas Lopes. Já tivemos ocasião de sublinhar a conciliação do restauro com o que restava do edifício original. E esse edifício teve funções relevantes ao longo das sucessivas atividades socioculturais. Aliás, há como que uma tradição cultural ligada ao Palácio das Laranjeiras. Nos anos 20 do século passado realizaram-se lá espetáculos de bailado a que esteve ligado Almada Negreiros.
E tivemos ocasião, em textos anteriores, de recordar que o Teatro foi inaugurado com uma ópera hoje esquecida, “Il Castello de Spiriti” de Mercadante, compositor e maestro então responsável pelas temporadas de ópera organizadas pelo então dono do edifício, João Pedro Quintela, numa tradição familiar que vinha do pai, “nobilitado” com o título de Barão e depois a Conde de Farrobo.
O pai, por sua vez, esteve ligado à fundação do Teatro de São Carlos em 1793 e o filho seguiu-lhe o exemplo de grande aficionado e amador de ópera. Farrobo filho viria a estar também a certa altura na gestão do São Carlos.
Na obra intitulada “O Teatro em Lisboa no Tempo de Almeida Garrett” Ana Isabel P. Teixeira de Vasconcelos evoca a frequência de Passos no Teatro das Laranjeiras e cita, entre mais eventos, a colaboração frequente de Rambois e Cinatti como cenógrafos. Evoca a descrição de Francisco Câncio acerca de uma receção a D. Maria II.
O Teatro era e será um grande centro de cultura e de projeção social. Como tal, continua hoje a merecer citação. Veremos em próximo texto as referências num volume publicado muito recentemente.
DUARTE IVO CRUZ
Obs: Reposição de texto publicado em 28.09.19 neste blogue.
Evocamos hoje o centenário do início do projeto de um Teatro palaciano, ainda que deslocado dos Paços Reais, o que de certo modo constituía alguma alternativa na época. Referimos o Teatro chamado das Laranjeiras, cuja atividade alternativa não impediu certas épocas de relevância cultural, para lá da qualidade arquitetónica inerente. O que ainda hoje pode como tal ser constatado, não obstante as alterações sucessivas da sua irregular atividade como sala de espetáculos.
Como já tivemos ocasião de escrever, o Teatro situa-se junto ao Palácio das Laranjeiras e ao Jardim Zoológico de Lisboa, ao qual esteve ligado. E o projeto inicial data de 1820, portanto há exatamente um século: o que não significa que nessa data tenha começado a construção.
Nessa data, João Pedro Quintela, Conde de Farrobo, então com 19 anos, filho do concessionário do Real Theatro de São Carlos que viria a dirigir de 1838 a 1840, toma a iniciativa de projetar a ideia de construção de um teatro privado. Não se perdeu o projeto, que se concretiza a partir de 1825, data em que o inaugurou com uma ópera de compositor já então marcante, até pelo nome.
Trata-se de Mercadante. E o então denominado Real Teatro de São Carlos foi pois inaugurado com a ópera denominado “Il Castilio del Spiriti” de Mercadante.
Mas como já tivemos ocasião de salientar, a propósito deste e de outros teatros, Farrobo teve o mérito de romper com a predominância na época do repertório operático italiano, então dominado em toda a Europa por Rossini e Donizetti, isto sem de modo algum questionar o talento e a qualidade desta produção então ainda moderna: mas de qualquer forma, o Teatro das Laranjeiras estreou em Portugal obras e óperas de compositores franceses, designadamente de Auber, o que na época e ainda hoje é assinalável.
Aliás, registe-se que Farrobo, discípulo de João Domingos Bomtempo, viria a ser diretor do então Real Conservatório de Lisboa.
Em 1842, o Teatro das Laranjeiras beneficia de obras de restauro dirigidas por Francisco Lodi, e introduz-se o primeiro sistema de iluminação a gás.
E assim foi prosseguindo atividade irregular até que em 9 de setembro de 1862, sofreu um incêndio que o iria destruir: e Farrobo, então já a caminho da ruína, nunca o restaurou.
E só quando o Jardim Zoológico se instalou nos Jardins do Palácio, por iniciativa de Henrique Burnay que para tal os cedeu, o teatro viria, anos mais tarde, a ser restaurado.
Mas importa aqui evocar ainda a relevância que, na sua época o Teatro das Laranjeiras alcança. E a esse propósito, pode citar-se precisamente a comparação, digamos assim, que Augusto M. Seabra estabelece precisamente entre o Teatro de São Carlos e o Teatro das Laranjeiras, no estudo intitulado precisamente “Ir a São Carlos”, teatro este “consagrado na memória da cidade”, escreve José Troni no prefácio (ed. CTT 1993).
Comparando os dois teatros no período da revolução liberal, diz então Augusto M. Seabra:
“Uma espécie de extensão restrita foi o Teatro das Laranjeiras, no novo Palácio de Farrobo, o próprio Conde participando nas representações ao lado de cantores contratados pelo S. Carlos em festas nas quais participou a própria família real”!...
Vale a pena recordar o papel e a função cultural do Teatro Thalia, muitas vezes referido como Teatro das Laranjeiras que se situa-se em área altamente frequentada. E a sua função e atuação em muito transcendeu as origens aristocratizantes, digamos assim, do Teatro em si, isto desde que foi inaugurado em 1825 por iniciativa do Conde de Farrobo, junto ao Palácio das Laranjeiras, onde morava, e no que é hoje o Jardim Zoológico de Lisboa.
Há anos tivemos ensejo de recordar que o velho Teatro foi inaugurado em 1825, alterado em 1842 segundo projeto de Francisco Lodi, e quase destruído por um incêndio ocorrido em 1862. Só a fachada ficou.
Mas em 2012 o Teatro é reconstruído segundo projeto dos arquitetos Gonçalo Byrne e Barbas Lopes. Já tivemos ocasião de sublinhar a conciliação do restauro com o que restava do edifício original. E esse edifício teve funções relevantes ao longo das sucessivas atividades socioculturais. Aliás, há como que uma tradição cultural ligada ao Palácio das Laranjeiras. Nos anos 20 do século passado realizaram-se lá espetáculos de bailado a que esteve ligado Almada Negreiros.
E tivemos ocasião, em textos anteriores, de recordar que o Teatro foi inaugurado com uma ópera hoje esquecida, “Il Castello de Spiriti” de Mercadante, compositor e maestro então responsável pelas temporadas de ópera organizadas pelo então dono do edifício, João Pedro Quintela, numa tradição familiar que vinha do pai, “nobilitado” com o título de Barão e depois a Conde de Farrobo.
O pai, por sua vez, esteve ligado à fundação do Teatro de São Carlos em 1793 e o filho seguiu-lhe o exemplo de grande aficionado e amador de ópera. Farrobo filho viria a estar também a certa altura na gestão do São Carlos.
Na obra intitulada “O Teatro em Lisboa no Tempo de Almeida Garrett” Ana Isabel P. Teixeira de Vasconcelos evoca a frequência de Passos no Teatro das Laranjeiras e cita, entre mais eventos, a colaboração frequente de Rambois e Cinatti como cenógrafos. Evoca a descrição de Francisco Câncio acerca de uma receção a D. Maria II.
O Teatro era e será um grande centro de cultura e de projeção social. Como tal, continua hoje a merecer citação. Veremos em próximo texto as referências num volume publicado muito recentemente.