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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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BREVE EVOCAÇÃO DO CENTENÁRIO DE UM DRAMATURGO ESQUECIDO: CARLOS MONTANHA

 

Temos aqui referido, com adequada frequência, dramaturgos, muitos deles hoje esquecidos, mas que marcaram, na época e alguns ainda hoje, a renovação/modernização do teatro português a partir e ao longo do século passado: e o facto de, repita-se, muito deles estarem esquecidos, não lhes reduz relevância direta e conjuntural na evolução do teatro português.


Mesmo que a referência seja menor, não deixará por isso de ser relevante, note-se bem!...


E no caso concreto que hoje nos ocupa, trata-se então de Carlos Montanha, nascido há exatamente 100 anos e falecido em 1972, irmão do mais marcante (e mais conhecido como tal) Pedro Bom, esse realmente muito significativo na renovação do teatro português.


Mas isso não desvaloriza esta evocação, breve que seja, da obra de Carlos Montanha, inclusive pela relevância que na época marcou o Teatro Estúdio do Salitre, iniciativa de modernização da criatividade, repita-se, na época mas ainda hoje, a nível de textos e de espetáculos, como aliás aqui temos referido.


E vale a pena então assinalar que Carlos Montanha tem o mérito de produzir as suas peças muito em função, precisamente, do experimentalismo inovador do próprio TEC. E essa dramaturgia, breve que seja e é, merece entretanto ser evocada, como o merecerá sem dúvida a ligação a espetáculos do TEC, grupo que já temos evocado no âmbito da sua relevância inovadora e, insista-se, experimental…


E nesse aspeto relevam-se as três peças escritas por Carlos Montanha: “Um Banco ao Ar Livre”, já citado, mas também “A Fábula do Ovo” (1948) e “Para Lá da Máscara” (1950).


É de assinalar aliás que esta peça constituiu o último espetáculo do TEC, o que não deve passar sem referência adjudicante, pois o TEC é uma das mais relevantes expressões do experimentalismo teatral da época e que em muitos casos chega até hoje.


Mas também não é descabido evocar então a ação criativa de Pedro Bom que nos deixou peças de relevo como “A Menina e a Maçã”, “Um Banco ao Ar Livre”, “A Qualquer Hora o Diabo Vem” além de outras criações/atuações de relevância cultural/teatral.


E quanto a essas, pode citar-se por exemplo o livro (sobre os) “100  Anos do Teatro Português” de Luis Francisco Rebello, onde se referem peças como “A Qualquer Hora o Diabo Vem, Variações”, “Assim ou Assim”, “Breve Viagem”, “Nova História da Carochinha” e outras, assinalando-se especificamente que este teatro comporta peças que “constituem, pela sua técnica desarticulada, pela convenção literal da convenção dramática e pela despersonalização das personagens, reduzidas a uma intervenção meramente funcional, o protótipo da dramaturgia portuguesa do imediato pós-guerra”. E acrescente outros textos.


Mas trata-se aqui de outra obra, e outro autor. A seu tempo veremos o que escreveu e o que inovou ou não…

 

DUARTE IVO CRUZ

O TEATRO DO ABSURDO EM PORTUGAL

 

Nesta conjuntura torna-se coerente a evocação de situações de criação ou de representação artística, e designadamente cénica, em épocas passadas. Aqui temos pois evocado sucessivas criações de espetáculo e simultaneamente sucessivas evocações de espaços/edifícios, históricos ou não, onde os mesmos espetáculos se concretizam: isto, tendo em vista que teatro é texto, sem dúvida, mas é texto/espetáculo ou espetáculo/texto.


E nessa medida, faz-se agora uma breve mas significativa evocação do chamado teatro do absurdo, tal como foi criado ou adaptado em Portugal e aqui representado: e isto porque a expressão, mais ou menos hoje consagrada, constituiu nos anos 50 do século passado uma característica esparsa mas relevante em si mesma da dramaturgia e do espetáculo em Portugal. E a ele voltaremos.


Neste momento, entretanto, apraz recordar o dramaturgo Carlos Montanha, no centenário do seu nascimento, ocorrido pois em 1921. Virá a falecer em 1972, marcando entretanto uma relevante modernização da criação dramática em Portugal, num conjunto de obras hoje na verdade esquecidas ou quase.


E é justo fazer aqui referência a um estudo de uma autora também esquecida, Sebastiana Fadda, que em 1998 publica um livro referencial, intitulado “O Teatro do Absurdo em Portugal”, o qual já temos citado e que aborda, precisamente o que na época representava um movimente de inovação feito entre nós por autores que hoje estão em parte esquecidos…


E nesse aspeto, aqui recordamos que ao Teatro Estúdio do Salitre se deveu a estreia em público da peça escrita por dois irmãos, Carlos Montanha e Pedro Bom intitulado “Um Banco ao Ar Livre”. Ora, recorde-se que Carlos Montanha (1921-1972) nasceu pois há exatamente 100 anos e como tal merece pelo menos uma referência histórica…


Recorde-se pois que Carlos Montanha é autor de peças de que se destacam “Fábula do Ouro” e “Para Lá da Máscara”, ambas de 1948 sendo esta, precisamente, o último espetáculo do Teatro Estúdio do Salitre. Podemos lembrar aliás que importa destacar por um lado a sua criatividade como dramaturgo, mas por outro lado a relevância que o Teatro Estúdio do Salitre alcançou numa época de pouca recetividade a este teor de criação de espetáculos então “experimentais” – mas não, note-se quando na criação de outros textos dramáticos representados! Aliás podemos lembrar que desde 1782 existiu em Lisboa um chamado Teatro do Salitre que desaparece com a obra de abertura da Avenida da Liberdade. 


E é ainda de assinalar que Pedro Bom manteve colaboração expressa e implícita com as iniciativas e criações teatrais, designadamente no Grupo de Teatro Experimental que viria a consagrar a estreia como dramaturgo de Tomás Ribas (1918-1999) o qual, como bem sabemos, viria a desenvolver uma carreira interessante nas artes ligadas ao espetáculo, como veremos.

 

DUARTE IVO CRUZ