Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

NOVA EVOCAÇÃO DO TEATRO ODÉON

 

Já aqui temos referido o Cineteatro Odéon na perspetiva da sua arquitetura de espetáculo e na tradição da atividade sobretudo cinematográfica mas também cultural-teatral, mesmo que esta tenha sido menos consistente e menos prolongada no tempo.


Ora importa, a esse propósito, referir então o que mais se prolonga no tempo, hoje, precisamente, o abandono, podemos dizer, em que o Odéon se mantém desde que deixou de funcionar: e mais podemos ainda dizer que em 2019 falou-se na reabertura do Odéon como teatro, projetada para a temporada de 2019/20. O que efetivamente não ocorreu!...


E no entanto o Odéon marca a arquitetura de espetáculo. É inaugurado em 1927 e em 1931, as obras de acrescento da galeria da fachada, juntamente com um algo insólito e como tal inesperado balcão lateral, pouco adaptável ao espetáculo cinematográfico, destacou as obras de reconstrução, digamos assim, do cineteatro, que como tal se previa viesse a funcionar. Hoje pode admitir-se que essa intervenção se destinaria mais ao espetáculo teatral em si mesmo: pois a lateralidade da galeria adapta-se mal ao cinema…


E em qualquer caso, a vocação teatral estava patente.


Importa pois recordar que essas obras de 1931 tiveram presente a vocação cénica do Odéon. E efetivamente, a construção à época de um balcão lateral mais de adaptava à cena do que ao cinema… havia pois, pelo menos subjacente, a vocação cénica do Odéon, e a relevância que na época tinha.


E precisamente: no estudo intitulado “Os Cinemas de Lisboa” (Bizâncio Ed. 2012), que já aqui temos citado, Margarida Acciauoli evoca o impacto que o Odéon provocou. Escreve:


«Embora se reconhecesse que o Cinema Odéon tinha também uma orquestra “excelente” e que os seus “fauteilles” eram “aceitáveis”, criticava-se violentamente a traça do recinto e a sua decoração de discutível gosto», assim mesmo!...


Ora pode aqui recordar-se que o Odéon funcionou como cinema até finais do século passado, mas a certa altura, aí pelos anos 60, “especializou-se” em filmes espanhóis, o que correspondeu a uma articulação com o âmbito cultural então de certo modo dominante. Já tivemos aliás ocasião de o recordar.


Mas isso não impediu que o Odéon marcasse de forma considerável a atividade de espetáculo em Lisboa.


Remetemos então para a artigo que aqui publicamos em janeiro deste ano, assinalando os 175 anos da inauguração de dois teatros em Lisboa, o D. Maria II e o Ginásio.


Aí referimos o eixo de espetáculos que a zona do Chiado e da Avenida da Liberdade representa como área central de atividades de espetáculo.


Citamos então os exemplos do Odéon, mas também os sucessivos Teatros do Ginásio, os sucessivos Teatro e Cinema Condes, o Eden, o São Jorge, o Politeama, o Coliseu, o Teatro do Palácio Foz, para não falar dos teatros e cinemas do Parque Mayer.


E para terminar, reproduzimos o que em 2016 escrevemos sobre o Odéon e a sua implantação na cidade.


Aí se detalha efetivamente o eixo urbano constituído pelo Chiado, pela Avenida da Liberdade e zonas circundantes. Mantem uma tradição de áreas de espetáculo mesmo considerando as transformações no Parque Mayer e o desaparecimento da atividade cinematográfica do Condes, herdeiro de uma sucessão de teatros e cinemas que vinham do século XVIII como mais tarde o Olímpia, o Eden e o Cinema Restauradores, para já não falar do Teatro do Príncipe Real, esse de finais do século XIX, nos anos 50 denominado Teatro Apolo.


Voltaremos a estas evocações.

 

DUARTE IVO CRUZ