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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

POESIA

III

O dia de hoje é um dia por si só

  


E como teu melhor amigo venho buscar-te para atravessarmos o bairro pois temos de fazer alguma coisa

O nosso destino não é lugar algum nem tem nome

Nós não existimos lá, lá no nosso destino

Vá, sobe a bordo,

agora o teu lugar no mundo vai reconhecer-te e esperar de ti porque estás a atravessar o bairro que se esvazia

e, no entanto, nós a bordo, com a mesma densidade agora mesmo

Nós no nosso bairro, sim, aqui e as ondas férreas, o seu impacto sem precedentes com todos os riscos em nós, mas nós fortes e saudáveis, sentes, não sentes? mas há uma dormência, uma ligeira dormência no rosto, provavelmente sim, é isso, mas não, não permitas que se mostre acidental a destruição do nosso bairro

pensa o quanto o nosso longo cabelo branco é assimétrico no crescer, é incontido no branco e não há nada mais tecnologicamente sofisticado que se assemelhe à sua condição e causa

Podes crer que a tua companhia fez a diferença, sim

o bairro já põe um pé à frente do outro, a água é água de novo, o dia de hoje é um dia por si só, nada hoje foi como costuma ser, nenhuma dúvida quanto a isso, e sim, safámos o bairro por um triz, sim,

tanto quanto podíamos


Teresa Bracinha Vieira

CRÓNICA DA CULTURA

As pandemias sempre deixaram as pessoas muito assustadas, e entre a porta da vida e a porta da morte, nada como tornar as pessoas propensas a abraçar soluções mágicas

  


Ainda que seja estranho pensar que o bem sairá do mal e que nós como espécie ressurgiríamos bondosos e rendidos a novas promessas por efeito da pandemia, a verdade é que os líderes autoritários e cínicos deste mundo, não desaproveitaram tempo e politizaram o vírus e ridicularizaram a ciência e desprezaram os feridos e não enterraram os mortos.

Foi um tempo certeiro para colocar as solidatriedades em xeque e deixar tudo ficar sob ameaça, inclusive as instituições mais credíveis para nossa derrapagem descontrolada e para seu controlo a cadeado.

Muitas foram também as divisões que provocaram em inúmeros pontos do mundo as quais agora são usadas a favor deles. Não será exagero afirmar que criaram abismos e ódios para que as pessoas se desentendessem e desprezassem.

Eis uma das grandes vitórias das teorias da conspiração.

Enfim, reparar os danos que estas pessoas provocaram e continuadamente provocam não será nada fácil.

Recuperar sem medo a nossa antiga vida social tem-se mostrado difícil depois da pandemia, o que os beneficia, diga-se, já que nós, mais isolados, teremos menor debate de ideias, menos informação e seremos mais frágeis.

Contudo, o processo destes líderes vai-se tornando óbvio: utilizam as próprias instituições democráticas para as destruírem de dentro para fora progressivamente.

Assim, quando ascendem ao poder tentam bloquear todos os acordos e todas as relações multilaterais. Trata-se de um processo, como de forma precisa bem definiu Stefanie Walter, é um processo de “desintegração baseado nas massas” e é assim referido porque normalmente se sustenta num forte apoio interno que aplaude o líder político como divindade.

Outra das suas máximas, é que o Estado não tem de se ocupar de nada.

Para estes líderes, a desigualdade é absolutamente natural pois defendem o darwinismo social, ou seja, acreditam na premissa de que existem sociedades superiores, e as que intelectualmente e fisicamente sobressaírem, devem ser as que governam, enquanto as sociedades menos aptas não devem ter função pois não acompanham as linhas evolutivas da sociedade segundo as suas posturas algorítmicas.

Recorde-se que um destes autoritários políticos chamou aos direitos humanos o “esterco da preguiça”.

O sentido de palavras como estas que se referiam aos direitos humanos, atenta ao perigoso surto pandémico e ao aumento inesperado de infetados desta medonha doença que circula hoje no mundo, e cuja vacina única reside na cultura e na educação, realidades que a melhor mente não fabrica em laboratório, nem a melhor técnica quântica expande.

Todavia, entre a porta da vida e a porta da morte, e face ao rugido do mundo, saberemos como se pode encontrar caminho para que a vida imaginada possa crescer.


Teresa Bracinha Vieira

POESIA

II

BICICLETA 


Hoje espreitei o barracão, sim, abri a porta e a um canto está a velha bicicleta

e de repente é como se, sim, como dizer

como se uma voz me dissesse,

observa a bicicleta e nota como ela ainda anuncia todo o uso que se lhe deu e ela naquela quietude, leve, tão leve

As coisas são mesmo assim, julgo, as pessoas partem e as coisas ficam que até parece impossível que está tudo no mesmo lugar

que tudo é de certo modo o que é e ao mesmo tempo diferente

mas não posso ficar aqui parada

há muitas bicicletas amarradas a um alçapão e há que as libertar uma vez que o tempo do mundo urge e seguro na minha bicicleta e já decidi que corto naquela rua do medo em direção às realidades que só se fixam ao chão, e é o que são na verdade, rasteiras

e continuo a pedalar cada vez com mais força e graças a isso subo estrada acima, subo, subo até ao topo, próximo tão próximo dos inícios que por esta altura as gentes já saíram para trabalhar, portanto provavelmente o melhor será carregar as horas de bicicletas como esta que pedalo

e os homens irão recordar-se do âmago

e vão regressar a casa pela sua própria página


Teresa Bracinha Vieira

POESIA

I

UMA PEDRINHA

  


E tu, Sol! conduzes a tua luz até mim

e é teu o propósito de me amanheceres

Na divisão principal da casa o fogão a lenha esteve atento toda a noite. Bem o sabes

Está uma bela manhã e sou testemunha de todo um mundo distinto quando é manhã por ti

porque sei que nestas manhãs os sonhos são transumantes nas mais puras espécies

com o que de imenso abre as portas aos homens e velo

Sim, é isso mesmo, velo pelo atracar do barco e pela decisão do cais e do remo e do ir

Não foi assim que fizemos muitos de nós quando o frio era demasiado frio mesmo dentro das casas dos mundos quentes? e o céu parecia pender sempre mais para baixo, sempre mais pesado, sim, já me pusera a pensar por que razão a primeira coisa que se fazia de manhã era vomitar algum muco e depois sentíamo-nos melhor

Depois o dia podia começar e com ele o teu despertar de todos

ó Sol! que logo começava a haver diferenças em relação às manhãs anteriores, e logo a nossa força preparava de novo um outro pão e íamos até ao mar alto, desatado de tão alto

Íamos sim, foi sempre assim que fizemos até que a luz do céu obedecesse a ti, Sol

e com o tempo que faz hoje, tempo demasiado adverso sim, seremos prova que as redes e outros utensílios de estranha pesca, armadilhas, amarrações,

não nos vencem em lado algum

mesmo que assustadores seixos nos atinjam pelas costas

porque

lhes atiramos uma pedrinha

sim, exatamente isso, uma pedrinha


Teresa Bracinha Vieira

CRÓNICA DA CULTURA

Ressonâncias 

  


No futuro, no já presente futuro, podemos questionar o quanto a linguagem ainda abarca em liberdade aquilo que consideramos uma estrutura imprescindível do pensar e do sentir.

No futuro, no já presente futuro, como pode o espírito proteger-se quando o potencial de danos entra em contacto com uma realidade que quer fazer-nos adaptar à confusão das inverdades?

Acreditamos que o potencial nocivo que pode tornar as formas de comunicar muito difíceis é agora uma prioridade a tratar e todos os avanços devem ser saudados.

Precisamos tanto da notícia, da boa notícia que muitas das questões que nos absorvem estão a ser melhoradas, desenvolvidas pelos investigadores de todo o mundo, de modo que afinação e controlo façam a diferença, proporcionando níveis de robustez e fiabilidade hoje ainda impossíveis.

Só com descobertas de novas confianças que não releguem os humanos, na melhor das hipóteses, para o papel de mera supervisão, é que a própria função da IA fica mais clara.

Conforme a capacidade de escrever e usar a linguagem, a humanidade cumprirá a sua história não inexoravelmente submetida ao domínio de quem controla as máquinas.

Lembremo-nos sempre que apesar dos superpoderes dos computadores, eles não possuem memória deles próprios e por isso não acedem.

E, entretanto, entretanto, que se mantenham emocionantes as ressonâncias da linguagem, daquela mesma que já no antes foi para além.


Teresa Bracinha Vieira

CRÓNICA DA CULTURA

A GRANDE AVENTURA CONTINUA A SER A INTERIOR

  


Não se desejam democracias supostamente aperfeiçoadas até ao adormecimento de quem não zelou pela exclusão, pela violência, pelas voltagens das diferentes culturas de humanos como nós.

As democracias existiram e existem para serem cuidadas e acordadas o suficiente para que nelas não medrem os silêncios brancos.

As democracias não se desenvolvem no isolamento do não escutar outros mundos, nem se podem envolver em mistérios que não descodificam erros graves não os denunciando, nem criando alternativas de correção, e não podem, nem poderiam as democracias deixarem-se constituir como meras periferias de natureza e cenários.

Todos os que para essas democracias contribuíram, são os mesmos que lhes reforçaram a fragilidade sob um aparato jurídico que as limitou desde a primeira hora.

A democracia por si só não é garantia de liberdade e a sua essência sempre dependeu da cultura e do desenvolvimento dos povos no aprendizado.

As democracias possuem vínculos irrompíveis e todos nós lhe sentimos a liberdade possível a entrar por aquela janela que nunca se fecha ao radar atento à descoberta que faz dos homens uma noção mais disponível.

Certo é que os homens têm de assumir a responsabilidade de se deixarem convocar pelo mais inóspito que se agarra à mochila das democracias, e descobrir a razão da não luz, e levá-la até onde se possa resolver por empenho e surpreendente passo a passo o que se permitiu que enquistasse.

E a democracia é também o reconhecimento da oposição.

E a democracia existe quando é possível o sim e o não, ou seja, quando nos podemos condenar, mas também salvar-nos.

E aquí a fundamental esperança de Aranguren - Nadie connoce al ombre, nadie puede sondarle en su corázón, pero debemos creer en él y esperar de él.

Todavia, nunca descuremos que o ambiente molda o caracter em maior dimensão do que o património biológico, como nos diz Kerstin Bergman, e não é possível eleger entre a violência e a pureza, mas sim entre distintos tipos de violência como bem afirmou Merleau-Ponty.

Na verdade, apela-se à violência e à não violência, quando ambas não se reconhecem como tal porque se autojustificaram e institucionalizaram pela lei dos homens, afastados do conhecimento de si, e nesse “si”, a violência primária e nua encapotada sob o manto do direito e da moral.

Há muito que a não-vida fez parar mentalmente as gentes que só se identificaram com elas próprias, e são essas mesmas gentes que seguem os guionistas como se segue um vício pardo, mas metastático.

O laisser faire permitiu os negócios de proteção de grupos para privilégio real de uns poucos, sem se procurar uma resposta de moralização democrática, a partir da desigualdade provocada nos cidadãos por estas mesmas realidades.

Mas registe-se que fora do espaço da democracia até o direito natural se converte num instrumento político ao serviço da ordem estabelecida.

E também certo tipo de religiosidade, quando se sente ameaçada pela secularização própria dos nossos dias, reage constituindo-se na base de muitos fanatismos.

E diga-se que as democracias permitem, enfim, que um sistema de vasos comunicantes funcione.

Todavia, para isso acontecer em consistência, não nos esqueçamos de corrigir as nossas inúmeras omissões aos avisos de entupimento desses vasos comunicantes, nomeadamente sabendo o que constitui a integração social, indispensável realidade para a estabilização de todos os excluídos, os sem oportunidades, os desprovidos da possibilidade do uso dos direitos, enfim, todos aqueles para quem a repulsa pela democracia ou por um extremismo qualquer lhes é absolutamente indiferente.

Ao contrário do que muito se afirma, não estão os bons de um lado e os maus de outro, para se condenar uns, e para que se possa canonizar outros, só a minimização moral sem sustentação na mais ínfima realidade, concede.

Não há maus sem mescla de bons nem bons sem mescla de mal algum, mas a situação extremada de ambos constitui a suprema responsabilidade de todas as maiores violências, de todas as ambiguidades, de todas as submissões ao poder de quem tem, em valor monetário, o mesmo que um orçamento de um estado soberano, e ainda promete oferecer a todos um teto para uma existência ajoelhada.

Só o homem aventureiro que renuncia a este amparo submetido, se entrega ao risco de um heroísmo solitário, esse mesmo que todo o homem generoso transporta em si, colocando-se fora desta nova lei, não enquanto bandido, mas recusando o colaboracionismo assente nos caídos que cederam ao cansaço, ou os que habitaram a ignorância não sabendo desde quando assinaram o contrato. Este o tema de Albert Camus no seu livro Os justos.

As democracias estão confrontadas por uma polarização aberrante. As redes sociais provocam indizíveis disfunções. Os algoritmos estão projetados para que as pessoas cliquem e cliquem e cliquem, pontuando nas bitcoins, ou a facilidade do poder ao dinheiro não fosse a base da nova e opulenta sociedade, a mesma que diz respeitar os sentimentos numa nova fórmula sem qualquer emoção.

 

Mas como a grande aventura continua a ser a interior

Sei muito bem o que não me quero tornar

     Nietzsche


Teresa Bracinha Vieira

CRÓNICA DA CULTURA

UM AZUL SUPERIOR


Nestes tempos confusos em que se admira mais a bravura física do que a coragem moral há um mundo que visa criar o caos adubando o medo. Um mundo absolutamente consciente da sua mentira; um mundo de insignificância que troça dos pensadores que teme; um mundo que promete segurança, abrigo, justiça e prosperidade, no maior desprezo pela verdade do que é humano; um mundo que só lhe interessa não valorizar o que até hoje se alcançou para em tudo semear ambiguidade e incerteza, utilizando as redes sociais num obsceno jogo de comando, através do qual a liberdade vai sendo eliminada e os seres semelhantes a térmitas, mil vezes multiplicados.

É um mundo que nenhuma cultura merece.

Um mundo bruto que defende os muros farpados, o não entendimento da diferença, um mundo que compra com alegria a ignorância a preços baixos.

Chegaram estes tempos confusos com a ajuda do culto do eu, e dentro desse eu, cada um, supostamente sacerdote de si, aprisionado na era dos meios digitais, e como se já antes desta era, por cima do ombro, estes eus se tivessem compreendido nas suas pequenas verdades; como se o narcisismo dos eus não fosse tóxico e capaz de contar apenas a história que desejam ouvir e transmitir.

Na verdade, aqui chegados, muitos ambicionam entrar em cena na procura do poder a fim de concretizarem a sua única vontade, inclusive, tripulando naves que só eles conhecem destino, colapso ou emergência.

Entretanto invoca-se a criatividade, e as start-ups prometem também a ressurreição!, qual falácia agitada e organizada da nova termiteira.

E encontramo-nos quando tiramos a máscara que usamos diante de todos?

O que encontramos por trás da máscara?

Um somos ninguém? ou um pouco do alguém?

Quando criámos uma alternativa de soluções eficazes aos desafios que encontrámos?

Quando?, quando ideias materializáveis foram contributo às perguntas sem resposta?

Quando a aventura humana se confundiu?

E hoje, hoje temos convicções suficientemente sólidas para lutarmos contra quem quer destruir a capacidade delas se formarem?

Está a chegar um novo ano e já vimos demasiadas coisas.

O herói de uns é o vilão de outros, e anda muita gente desorientada sobre o que significa ser bom ou ser melhor.

Até já se desconfia daqueles que tomam posições contra o abuso de poder ou de dogmas.

E nem sempre foi assim.

E nem sempre foi assim.

E muitas vezes já foi assim.

E muitas vezes já foi assim.

As ondas da história fazem-se sempre ao redor de uma rotunda, mas também podemos ser, de repente, algo poderoso que acontece:

Volto a recordar o jovem rebelde que ficou em pé frente aos tanques na Praça Tiananmen.

E desde então nada se compreendeu?

Não estar morto não é tudo o que há a celebrar!

Fará sempre parte da nossa tragédia apenas colocar as culpas nos outros, minimizar os perigos reagindo demasiado tarde, ridicularizar a ciência, politizar doenças, relativizar a não-vida enquanto por entre tudo, uma primitiva manipulação já obteve êxito na criação de abismos de ódio entre os homens.

E não é fácil descortinar como esses abismos serão ultrapassados.

Quem toma por garantido deseja que nada aconteça depois disso: que não exista um tu vivo, um tu que sinta, pense e fale.

E não é fácil explicar o facto de não se saber coisas e é inexequível exprimir o facto de se não saber o que é saber.

Nas grandes tragédias humanas sempre esteve o comportamento do pior da nossa natureza, esse mesmo que se expande no obscurantismo das multidões fanáticas, na crueldade como seu traço distintivo.

Há de novo um mundo que pretende reinar destruindo tudo o que existe para dar início às versões dos messias titânicos que já vestem o nanismo do futuro do outrora.

Mas recuperadas forças e estupefações, a luta pela vida digna provará que o rugido de um mundo não ensurdece o de um outro onde vive um azul superior.

Com boas leituras que venha 2025!


Teresa Bracinha Vieira

CRÓNICA DA CULTURA

Os indris deixam de cantar em cativeiro


Os guias apontaram para um estranho animal no cimo das árvores e exclamaram «Indri» já que esta palavra significa «olhe para aquilo» e foi entendida a palavra «Indri» como sendo o nome local do animal.

Rezava a história que se se atirasse uma flecha contra estes animais, eles a apanhariam no ar e devolviam-na à procedência com pontaria certeira, e assim geraram-se as histórias sobre o Indri e estabeleceu-se um lugar do Indri na evolução dos grandes mamíferos, concluindo-se que humanidade e indris são aparentados.

De muitas das criaturas da Terra esta é uma das mais raras e cativantes e mesmo que as lendas sejam difusas, eu gosto de pensar que são de excelente clareza.

Acresce que, segundo a lenda, os indris reconheciam uma relação com os humanos, pois ajudavam muitas vezes a humanidade, nomeadamente com o seu uivo avisavam as aldeias da aproximação de ladrões.

Os indris são muito afetuosos entre si, passam horas a acariciar-se em gestos de grande proteção e parecem muito humanos, com proporções entre a medida das pernas e do peito muito próximas de nós.

Vivem os indris numa parte das florestas orientais de Madagáscar, florestas que estão a desaparecer, vítimas de incêndios e desflorestações devido a atividades de minério.

Em cativeiro os indris têm dificuldade em sobreviver e assim esta espécie fabulosa está ameaçada de extinção.

O Indri é o maior lêmure que se conhece. Todavia, o caminho entre os humanos e eles divergiu há milhões de anos, mas há uma conexão impressionante: os Indris são dos poucos mamíferos que cantam, criando mesmo coros nas copas das arvores que ecoam por muitos quilómetros.

Contudo, os indris deixam de cantar em cativeiro e apenas piam em constantes gritos de alarme.

Que a interpretação desta realidade, manifestação de sentir, faça parte do nosso círculo moral; que seja analisada com a riqueza de quem no mundo respeita a vida e a casa que todos partilhamos neste planeta; que em paz, esta aventura da existência, inimitável e extraordinariamente comovente esteja na base do nosso mais completo compromisso.


Teresa Bracinha Vieira