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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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OS 120 ANOS DO NASCIMENTO DE TOMAZ DE FIGUEIREDO

  

 

Vale a pena evocar aqui o teatro de Tomaz de Figueiredo nos 120 anos do seu nascimento, ocorrido em 1902. E assinalam-se também os 52 anos da morte, ocorrida em 1970.


Isto, sem perder a noção de que a sua criatividade teatral está algo esquecida, para não dizer mais: e no entanto, a obra dramatúrgica que nos deixou merece referências, hoje de facto ignoradas. E no entanto, a sua dramaturgia merece evocação, pela qualidade e pelo sentido de espetáculo inerente, numa época em que outros valores se impõem mas que não colidem, de modo nenhum, com a qualidade indiscutível desta dramaturgia…


Daí, esta evocação, e isto não obstante o teatro de Tomaz de Figueiredo estar hoje efetivamente de certo modo esquecido: mas a verdade é que a sua criatividade literária também o está…


E no entanto a sua dramaturgia deve ser devidamente assinalada, pois concentra sinais de qualidade merecedores de vasta evocação, que não tem sido efetuada.


Em suma: o teatro de Tomaz de Figueiredo merece referência pela qualidade cénica e sobretudo literária: mas uma coisa não evita a outra, usando uma expressão bem antiga… E vale a pena então insistir que a sua dramaturgia não tem sido devidamente apreciada, e isto não obstante o sentido de espetáculo que envolve.


Na minha “História do Teatro Português” dedico a este autor, hoje, insisto, como dramaturgo de certo modo esquecido, uma referência abrangente e elogiativa, não obstante algumas óbvias restrições que a dramaturgia de Tomaz de Figueiredo implica. No caso concreto, aponta-se sobretudo a truculência textual de peças como designadamente “Os Lírios Brancos”, “O Visitador Extraordinário”, “A Barba do Menino Jesus” ou “A Nobre Cauda”.


Essas peças, escrevi no livro citado, conciliam uma exuberância barroca com um lirismo por vezes dominante, mas sobretudo com uma visão de mitos sociais que efetivamente se aproxima do surrealismo no seu “non-sense”.


E acrescento agora que Luiz Francisco Rebello, na “História do Teatro Português” de que é autor, refere-se à peça “A Rapariga de Lorena” (1964) como exemplo da ligação criacional de escritores/dramaturgos que a certa altura se dedicaram à produção teatral.


O teatro criado em Portugal merece estudos e referências: mesmo quando os dramaturgos são ou estão esquecidos!...

 

DUARTE IVO CRUZ

CINQUENTENÁRIO DA MORTE DE TOMAZ DE FIGUEIREDO


O teatro, como criação literária e como espetáculo potencial ou concretizado, constitui efetivamente uma área de criatividade que em certas épocas interessou e indiscutivelmente marcou a literatura mas também a atividade criacional tanto de escritores como de profissionais de cena, e como sobretudo de público. E nesse aspeto, encontramos e desenvolvemos referências por vezes inesperadas a criações literárias com vocação de espetáculo e a realizações, estas mais escassas, de espetáculos teatrais a partir de textos dramáticos. Mas tenha-se presente, no que respeita ao teatro português e/ou ao teatro em Portugal, a menor capacidade histórica de concretização, precisamente, na realização de espetáculos a partir de autores portugueses, sobretudo mais ou menos contemporâneos...


E no entanto, épocas houve em que o teatro-literatura interessou autores que apriori sabiam que havia menos hipóteses de concretização dos textos como teatro-espetáculo. O que não impediu, note-se bem, a criatividade respetiva no que respeita à criação de divulgação editorial de textos concebidos para a cena: o que muito menos vezes ocorria!...


Ora será esse o caso de Tomaz de Figueiredo (1902-1970), que aqui se evoca no cinquentenário da morte. A ele nos referimos com destaque, designadamente na “História do Teatro Português” onde efetuamos um levantamento da dramaturgia do autor, citando em particular peças como “Os Lírios Brancos” (1959), “O Visitador Extraordinário” (1960), “A Barba do Menino Jesus” (1964) ou “A Nobre Cauda” (1965). E ainda títulos como “O Embate”, “Loiras de Morte”, “O Morto e os Vivos”.


À época estavam alguns inéditos, como designadamente também “O Homem do Quiosque”. Mas isso não impediu que fizéssemos uma análise global do teatro de Tomaz de Figueiredo, referindo designadamente que estes textos “conciliam uma exuberância barroca com um lirismo por vezes dominante mas sobretudo com uma visão dos mitos sociais que efetivamente se aproxima do surrealismo”.


Isto, não obstante aspetos ligados à potencialidade de espetáculo, que nem sempre o autor concretizou, pois “o texto domina a cena e levanta problemas de espetáculo a peças interessantes”, acima já citadas.


E justamente: para terminar, para já, esta evocação, à qual poderemos voltar, fazemos uma transcrição do estudo que lhe dedicou David Mourão Ferreira em “Hospital das Letras”:


“Não obstante a diversidade de géneros, não obstante a pureza específica de cada um deles, em todas as obras de Tomaz de Figueiredo se manifesta, de modo unitário, a sua complexa personalidade, que oscila constantemente entre o riso e as lágrimas, a chacota e o êxtase, a revindita e a ternura.” E mais acrescenta: “Prodigioso evocador do passado, em prosa e em verso grande poeta da memória, Tomaz de Figueiredo, a despeito da constante nacionalista, tradicionalista – e até regionalista – de muitos dos seus temas (que de perto o aparenta a Camilo), não menos integra, todavia, na área estético-emocional de um La Varende, bem como, porventura, mais longinquamente, na linhagem de um Barbey de Aubrevilly, e de um Villlier de Lisle Adam”.


Nada menos!

 

DUARTE IVO CRUZ