CRÓNICA DA CULTURA
Os ulmeiros frondosos vão-se despedindo aos poucos da estação das alegrias. Habituaram-se que o Verão fosse breve como breve a felicidade, e que o Outono lhes fazia sentir que a queda das folhas exprimia a solidão dos campos, os dolorosos versos do entendimento das separações.
No Inverno as arvores perdem os espectadores, perdem-lhes a companhia e a capacidade de a encantar, e é como se vivessem para dentro um tempo desastrosamente melancólico e frio. E cismam, cismam com o prémio da saudade como devaneio doce e não dor.
Os ulmeiros, dizem, entram em descrença por deixarem de acreditar numa reabilitação primaveril que já tarda. São pais de família e desconhecem o que dizer aos filhos que lhes não perturbe a profundidade do antever do futuro de afastar a ideia de um abismo ou a perceção das lágrimas no rosto de quem passa.
E eis que escutam um chilrear alegre de quem chega de uma viagem. São as andorinhas, são os trovadores portugueses. Começa-se a notar um certo movimento auspicioso como prenúncio de uma lenda que acontece. E os ulmeiros, de qualquer natureza que eles sejam, entendem que a grande arte da vida vai ter enfim, uma outra estação de glória que a precede, e que afinal de nenhuma, a queixa se escreve em cadernos de alma, antes são tempos que também se fazem do interior exclusivo de fenómenos, e, sempre a seu benefício. De todos os ângulos sempre e unicamente Vida.
Teresa Bracinha Vieira
Agosto 2017