Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!
Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!
Repara nos velhos. Dementes, doridos, restos de casas. Vivem agora a lepra de todos nós. Não lhes chegamos. Tresandam. Esquecem. Apoderam-se do nada. E nós, capitosos, brindamos com o vinho que também eles sorveram, desdenhando a morte que, amarga como a nossa indiferença, haveremos de provar.
in Napule, 2011
See the old
See the old. Sore, demented, derelict. They live for now the leprosy of us all. We don’t touch them. They stink. They forget. They grab nothingness. And we, big-headed, toast with the wine they once sipped, scorning death which, as bitter as our indifference, we shall taste.
Os cães dormem finissimamente. Vejo-os resumidos em torno do chão, peneirando serenos as dunas do sono. Já eu, reproduzo a insónia de uma forma quase fabril: de hora em hora, de noite em noite. É a metalurgia de algo que não funde, eu e a fornalha das minhas burlas, dos meus prejuízos. Entendo que cada homem, superando o receio de excomunhão, devolva o seu corpo à indiscrição. Corpo no mundo como rusga. Revirar tudo, farejar como os cães a flor absurda do prazer.
in Rusga, 2010
The thin sleep…
The thin sleep of dogs is finest. I see them summoned to the floor, serenely sifting the dunes of sleep. Whereas I, I produce insomnia like a factory line: hour by hour, night by night. It is the metallurgy of something that can’t be welded, me and the furnace of my deceits, of my losses. I’d postulate that every man, overcoming his fear of excommunication, should hand his body over to indiscretion. His body prowling the world. Overturning everything, sniffing like a dog the absurd flower of pleasure.