Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!
Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!
Já aqui invoquei o chamado Teatrinho do Palácio da Brejoeira, em Monção: destacando a sala de teatro que valorizou o, já em si mesmo notável Palácio. Recordei então a relevância deste acrescento dedicado às artes do espetáculo, o que, na altura o referi, não é muito habitual, no histórico da arquitetura e da sociedade portuguesa.
Recordei também que começou a ser construído em 1806 e dado como concluído em 1834 segundo projeto inicial de um arquiteto com projeção na época, de seu nome Carlos Amarante. E referi que se processou como que uma conciliação estilística do tardo-barroco comum na época com uma expressão romântica, valorizada no jardim e nas evocações históricas que em conjunto, desde o lago a uma torre gótica e ao recurso ao estilo inglês.
Evoquei nesse texto a intervenção de Ventura Terra, a quem se deve o Teatrinho, mas também não poucos teatros (e não teatrinhos...) por esse país fora: deste logo o Teatro de Esposende, o Salão Nobre do Teatro de São Carlos, o Teatro e Cinema Politeama, que é referido com encómios por José Augusto França, que aliás ao Arquiteto dedica extenso estudo:
“O Politeama, em Lisboa, construído em 1912-13, com o seu amplo espaço interior e a fantasia decorativa do janelão do 1º andar foi a melhor obra do género neste período, bem inscrita dos trabalhos de Ventura Terra” (cfr. “A Arte em Portugal no Século XIX” volume II 1966 pág.78).
E José Augusto França refere também o Palácio de Brejoeira com expressões de encómio: “o último grande solar fidalgo português (…) curiosa construção de carater híbrido” salientando “a importância do seu portal setecentista, a vastidão das suas fachadas em L, já viradas para Oitocentos”. Cita designadamente “o pequeno e elegante teatro” instalado em meados do século passado. (ob. cit. volume I pág. 182).
O Teatrinho, com cerca de 50 lugares em suave declive, além de mostrar os interesses culturais dos proprietários, revela uma harmonia e uma ambiência que se concilia com a funcionalidade do palco, não obstante as reduzidas dimensões da sala.”
Tudo isto foi escrito e aqui publicado na perspetiva do património de teatro e de espetáculo pelo país fora... E justamente, no que se refere ao Monção, é agora oportuno evocar o Cine-Teatro João Verde.
Trata-se agora de um exemplar característico da geração dos cineteatros de meados do século passado. Projetado pelo arquiteto José Esteves, foi construído e inaugurado em 1949, numa fase de atividade descentralizadora, digamos assim, das atividades de espetáculo por todo o país. Com uma lotação inicial de cerca de 300 lugares, marcou pela estrutura interna, aliás comum na época, mas aqui com indiscutível qualidade: e desde logo, pela fachada, que prefigura como uma torre, o que de certo modo concilia a modernidade com a tradição urbana regional.
E a sala propriamente dita segue também esse conceito de modernidade epocal com a capacidade de exploração, conciliando o moderno com o tradicional. O projeto é dominado por uma torre e comporta uma estrutura interna de plateia, balcão e até alguns camarotes.
Só que, no inicio dos anos 80, os proprietários resolvem demoli-lo. Valeu então a Câmara Municipal de Monção, que adquire o Cine-Teatro que em boa hora se mantém em atividade.
DUARTE IVO CRUZ
Obs: Reposição de texto publicado em 18.11.17 neste blogue.
Como já uma vez vimos a cultura e a arquitetura ligada aos espetáculos tem em Vila Real inesperadas e extremamente interessantes referências a nível da atividade artística propriamente dita, mas sobretudo hoje na expressão cultural inerente. E mais: não obstante a necessária descentralização, em tempos imposta pela distância relativamente a grandes centros de espetáculo, nunca deixou de se verificar e registar uma atividade de produção artística adequada, à expressão urbana e arquitetónica.
Referimos o Conservatório Regional de Música, o Teatro Municipal e ainda, como memória, o antigo Teatro-Circo. Assim, temos para já o Conservatório Regional de Musica, projeto do Arquiteto Belém Lima, inaugurado em 2004. E, como adiante se refere, é o próprio autor do projeto que nos esclarece acerca dessa tradição modernizada, a qual hoje tanto valoriza a cidade.
Estamos no quadro de uma tradição urbano-arquitetónica que remonta ao antigo Convento São Domingos, com vestígios plausivelmente originários dos séculos XVI/XVII. E há uma heterogeneidade significativa na localização urbana e no que ainda sobressai, e não é pouco, do edifício em si mesmo.
Citamos então o próprio arquiteto: “Em quinhentos e oitenta anos, o chão conturbado do Convento de São Domingos foi também hospital, quartel, estalagem, cine-teatro”. (cfr. “O Novo Hóspede” in “Conservatório de Música de Vila Real”, 2005, texto reproduzido em “Habitar Portugal 2003/2005 - ed. Ordem dos Arquitetos 2006).
E insistimos, foi também, em épocas passadas, teatro, pois lá terá eventualmente estreado em 1846 a primeira peça de Camilo Castelo Branco, “Agostinho de Ceuta”. E a propósito dessa estreia, transcrevo o que escrevi sobre o então Theatro de Vila Real:
“Com a peça, estreou também um Teatro com ar de Igreja, e se calhar fora-o antes, singelamente denominado Theatro de Vila Real. Era pertença de João Pinto da Cunha, tio do escritor. Seguiram-se algumas salas até ao Teatro Avenida, depois Cine-Teatro Real, de 1930. ( in “Teatros de Portugal” ed. INAPA 2005).
Sobre o Conservatório Regional de Música, e tal como tivemos já ocasião de referir, o que mais impressiona é a conciliação do atual projeto arquitetónico com a funcionalidade de uma casa destinada ao ensino, sem trair nem a tradição nem a modernidade. Salienta-se designadamente a harmonização da arquitetura contemporânea com o romano-gótico da Sé e com a envolvente urbana, num edifício de vocação ampla e realizada na docência e no espetáculo artístico inerente.
Ora bem: Sousa Bastos cita, em 1908, um Teatro Circo de Vila Real, construído a partir de 1879 e inaugurado “em 1 de janeiro de 1892 com o drama D. António de Portugal desempenhado pelo grupo de amadores dos Bombeiros Voluntários de Vila Real e pela atriz Carlota Veloso. Tem 26 camarotes numa só ordem, 4 frizas, 208 cadeiras, 170 lugares de superior e 300 de galeria”!... (in “Diccionario do Theatro Português” ed. 1908 pág. 326).
DUARTE IVO CRUZ
Obs: Reposição de texto publicado em 09.12.17 neste blogue.
Como já uma vez vimos a cultura e a arquitetura ligada aos espetáculos tem em Vila Real inesperadas e extremamente interessantes referências a nível da atividade artística propriamente dita, mas sobretudo hoje na expressão cultural inerente. E mais: não obstante a necessária descentralização, em tempos imposta pela distância relativamente a grandes centros de espetáculo, nunca deixou de se verificar e registar uma atividade de produção artística adequada, à expressão urbana e arquitetónica.
Referimos o Conservatório Regional de Música, o Teatro Municipal e ainda, como memória, o antigo Teatro-Circo. Assim, temos para já o Conservatório Regional de Musica, projeto do Arquiteto Belém Lima, inaugurado em 2004. E, como adiante se refere, é o próprio autor do projeto que nos esclarece acerca dessa tradição modernizada, a qual hoje tanto valoriza a cidade.
Estamos no quadro de uma tradição urbano-arquitetónica que remonta ao antigo Convento São Domingos, com vestígios plausivelmente originários dos séculos XVI/XVII. E há uma heterogeneidade significativa na localização urbana e no que ainda sobressai, e não é pouco, do edifício em si mesmo.
Citamos então o próprio arquiteto: “Em quinhentos e oitenta anos, o chão conturbado do Convento de São Domingos foi também hospital, quartel, estalagem, cine-teatro”. (cfr. “O Novo Hóspede” in “Conservatório de Música de Vila Real”, 2005, texto reproduzido em “Habitar Portugal 2003/2005 - ed. Ordem dos Arquitetos 2006).
E insistimos, foi também, em épocas passadas, teatro, pois lá terá eventualmente estreado em 1846 a primeira peça de Camilo Castelo Branco, “Agostinho de Ceuta”. E a propósito dessa estreia, transcrevo o que escrevi sobre o então Theatro de Vila Real:
“Com a peça, estreou também um Teatro com ar de Igreja, e se calhar fora-o antes, singelamente denominado Theatro de Vila Real. Era pertença de João Pinto da Cunha, tio do escritor. Seguiram-se algumas salas até ao Teatro Avenida, depois Cine-Teatro Real, de 1930. ( in “Teatros de Portugal” ed. INAPA 2005).
Sobre o Conservatório Regional de Música, e tal como tivemos já ocasião de referir, o que mais impressiona é a conciliação do atual projeto arquitetónico com a funcionalidade de uma casa destinada ao ensino, sem trair nem a tradição nem a modernidade. Salienta-se designadamente a harmonização da arquitetura contemporânea com o romano-gótico da Sé e com a envolvente urbana, num edifício de vocação ampla e realizada na docência e no espetáculo artístico inerente.
Ora bem: Sousa Bastos cita, em 1908, um Teatro Circo de Vila Real, construído a partir de 1879 e inaugurado “em 1 de janeiro de 1892 com o drama D. António de Portugal desempenhado pelo grupo de amadores dos Bombeiros Voluntários de Vila Real e pela atriz Carlota Veloso. Tem 26 camarotes numa só ordem, 4 frizas, 208 cadeiras, 170 lugares de superior e 300 de galeria”!... (in “Diccionario do Theatro Português” ed. 1908 pág. 326).