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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Teatro Manoel

 

EM MALTA, UM TEATRO COM ORIGEM E NOME PORTUGUÊS

 

Não é habitual, antes pelo contrário, encontrar referências a Portugal e a individualidades portuguesas ligadas a teatros estrangeiros, com a exceção óbvia dos países de expressão portuguesa. Precisamente por isso, mas não só, assume para nós relevância o Teatro Manoel de La Valeta, Malta.

E é de referir desde já dois aspetos: a impressionante qualidade do edifício em si, expressão notável da arquitetura teatral do século XVIII, excelentemente conservada e a intensa atividade do teatro, beneficiando sem dúvida do movimento turístico, mas revelando critérios de expressão cultural também extremamente assinaláveis.

Destaco a conservação exemplar do edifício e a valorização das programações respetivas, percorrendo todas as expressões das artes de espetáculo. Basta consultar o programa do denominado Teatru Manoel - Stagun 2016-2017 para se ter a noção dessa vitalidade exemplar, vastíssima mesmo tendo em conta o mercado turístico em desenvolvimento.

Importa entretanto ter presente que o Teatro Manoel deve-se à iniciativa do primeiro Grão- Mestre português da Ordem de Malta, D. António Manoel de Vilhena, nascido em Lisboa em 1633 e falecido em La Valeta em 12 de dezembro de 1736, cumprem-se em breve exatos 380 anos. E já agora recorde-se que 5 anos depois da sua morte, assumiria o cargo e a função outro Cavaleiro português, D. Manuel Pinto da Fonseca, Grão-Mestre de 1741 a 1773.

Mas o que aqui importa então salientar é a iniciativa de construção do Teatro. António Manuel de Vilhena foi eleito Grão-Mestre em 1722, no contexto de uma atividade que prosseguiria em sucessivas ações navais e militares e que marcaram o Mediterrânio, ao longo do século XVIII e não só. Antes, Vilhena foi sucessivamente nomeado Grão-Chanceler da Ordem, Bailio de São João de Acre e responsável pelas finanças da Ordem, o que na época de sucessivas guerras no Mediterrâneo, com os turcos, não devia ser fácil…


António Manoel de Vilhena marcou a política, mas também o património de Malta com sucessivas intervenções e importantes construções que duram até hoje: cita-se o Forte Manoel, estradas e pontes, e sobretudo, em La Valeta, o chamado Burgo Vilhena, vasta renovação urbana que incluiu um hospital.


Ora bem: em 1731, o Grão Mestre D. António Manoel de Vilhena manda também construir em La Valeta, um teatro “para o honesto divertimento do povo”. Denominado simplesmente Teatro Público, depois Teatro Real, ganha finalmente no nome de Teatro Manoel – Teatru Manoel, que hoje conserva.


Trata-se de um notável modelo da arquitetura teatral do século XVIII e que, nas duas vezes que o visitei, me recordou o Teatro de São Carlos, não obstante este datar de 1793. Designadamente, o ambiente e a decoração da sala, marcada pelo tom dourado dominante, representa, em ambos os Teatros citados, exemplo relevante da arquitetura teatral do século XVIII. E a verdade é que o Teatro Manoel, apesar de seriamente atingido durante a Segunda Guerra Mundial, resistiu e foi posteriormente restaurado ainda durante a administração inglesa.


E mantém uma atividade notável!


Repita-se: o Teatro Manoel constitui um exemplo relevante de arquitetura de espetáculo do século XVIII. “É pequeno mas muito bonito, com quatro ordens de camarotes, um palco pouco profundo” mais adequado para peças de cenário simplificado que não exija grande equipamento de cena, tal como refere Claire Etienne Engel citado por Alain Huber-Bonnal. (cfr. C. E. Engel - “Les Chevaliers de Malte” – 1972 e  A. Huber-Bonnal -  “Malte” – 1990).

 

DUARTE IVO CRUZ

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