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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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TRINTA CLÁSSICOS DAS LETRAS

 

«CEM ANOS DE SOLIDÃO» (IV)

 

“Cem Anos de Solidão” é uma saga extraordinária que, seguindo a genealogia estonteante de uma família sul-americana, onde toda a realidade se encontra e desencontra, representa o realismo mágico em toda a sua pujança... Publicado em maio de 1967 em Buenos Aires, depressa se tornou uma das grandes referências da literatura mundial de sempre, dando a tónica inesgotável de uma vida marcada pela diversidade e por um desafio fantástico de imaginação e de afirmação da natureza. Gabriel Garcia Marquez, escritor colombiano, traz-nos a História viva, como uma realidade próxima das pessoas. «Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo. Macondo era então uma aldeia de vinte casas de barro e taquara, construídas à margem de um rio de águas diáfanas que se precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e enormes como ovos pré-históricos. O mundo era tão recente que muitas coisas careciam de nome e para mencioná-las se precisava apontar com o dedo. Todos os anos, pelo mês de março, uma família de ciganos esfarrapados plantava a sua tenda perto da aldeia e, com um grande alvoroço de apitos e tambores, dava a conhecer os novos inventos. Primeiro trouxeram o imã. Um cigano corpulento, de barba rude e mãos de pardal, que se apresentou com o nome de Melquíades, fez uma truculenta demonstração pública daquilo que ele mesmo chamava de a oitava maravilha dos sábios alquimistas da Macedônia. (…) “As coisas têm vida própria”, apregoava o cigano com áspero sotaque, “tudo é questão de despertar a sua alma.” José Arcádio Buendía, cuja desatada imaginação ia sempre mais longe que o engenho da natureza, e até mesmo além do milagre e da magia, pensou que era possível servir-se daquela invenção inútil para desentranhar o ouro da terra»… Tudo se passa numa aldeia remota e fictícia da América Latina – Macondo. É uma povoação fundada pela família Buendía-Iguarán. Mas a chave desta saga de carácter quase bíblico está em Úrsula, a mulher de José Arcádio, que viveu entre os 115 e os 122 anos – “voz da razão de uma família de loucos”. É ela que nos vai explicar o código genético de José Arcádio e de seus filhos. Os da estirpe de Arcádio o primogénito, são impulsivos, expansivos e trabalhadores. Diversamente, o segundo, Aureliano era introvertido, calmo, pensativo, talvez filosófico. Amaranta, a filha terceira foi uma típica dona de casa, guardiã de tradições e haveres. E ainda houve Rebeca filha adotiva de José Arcádio e Úrsula, vinda sem eira nem beira, que se apaixonará pelo primogénito Arcádio… Ao longo destes cem anos há um longo livro a desvendar – nos pergaminhos de Melquíades, o cigano, amigo de José Arcádio Bendía e na sua decifração. Mil acontecimentos, mil personagens, convergências e divergências, miragens, a narrativa em estado puro. Um mundo de loucura e de sonho, de inverosimilhança e de credibilidade. E fina-se tudo: «Macondo já era um pavoroso redemoinho de poeira e escombros, centrifugado pela cólera do furacão bíblico, quando Aureliano avançou onze páginas para não perder tempo com factos demais conhecidos e começou a decifrar o instante que estava vivendo, decifrando-o à medida que o vivia, profetizando-se a si mesmo no ato de decifrar a última página dos pergaminhos, como se estivesse a ver a si mesmo num espelho falado. Então deu outro salto para se antecipar às predições e averiguar a data e as circunstâncias da sua morte. Entretanto, antes de chegar ao verso final já tinha compreendido que não sairia daquele quarto, pois estava previsto que a cidade dos espelhos (ou das miragens) seria arrasada pelo vento e desterrada da memória dos homens no instante em que Aureliano Babilónia acabasse de decifrar os pergaminhos, sendo tudo o que estava escrito neles irrepetível desde sempre e por todo o sempre, porque as estirpes condenadas a cem anos de solidão não teriam uma segunda oportunidade sobre a terra»…

 

Agostinho de Morais

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