VENTURA TERRA: EVOCAÇÃO DOS TEATROS E MAIS SALAS DE ESPETÁCULO
Salão de entrada do Teatro de São Carlos
Em diversos artigos, tivemos já ensejo de evocar os 150 anos do nascimento do arquiteto Ventura Terra, ocorrido em 1866. Retoma-se hoje o tema, agora em função da exposição patente no Torreão Poente da Praça do Comércio, organizada pelo Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa.
Dá-se especial relevo às intervenções de Ventura Terra diretamente ligadas às artes do espetáculo, como aliás temos aqui referido, mas não só: importa efetivamente enfatizar também algumas das conceções e intervenções de Ventura Terra em projetos, aliás quase todos devidamente construídos, destinados à abordagem de grande público.
“Do Util e do Bello” é a epígrafe do catálogo e da própria exposição em si, coordenada por Jorge Ramos de Carvalho. E nela se destaca, no conjunto da obra vasta e variada, o sentido e o objetivo de relacionamento com o público, seja em salas e edifícios de espetáculo propriamente duto, seja em edifícios destinados, não tanto a espetáculo, mas a receber “espetadores” / visitantes: desde logo, seguindo a cronologia da exposição, os dois Pavilhões de Portugal patentes na Exposição Universal de Paris de 1900.
Estas não eram salas de espetáculo, é certo: mas tanto o chamado Pavilhão das Matas, Caça e Pescas como sobretudo o Pavilhão das Colónias Portuguesas constituíram, de acordo com o roteiro do exposição, uma notável criação de espaços públicos que, como tal, deixavam adivinhar o sentido de “espetáculo” que Ventura Terra iria ao longo da vida sucessivamente concretizar.
Em sucessivos textos que aqui já publicamos, faz-se referência detalhada ao Teatro Politeama, ao Teatro Clube de Esposende, ao átrio do Teatro de São Carlos (onde se suprimiram os frescos do teto de Cyrilllo Volkmar Machado) e ao Teatrinho do Palácio de Brejoeira (Monção). Mas o catálogo-guia da exposição que agora vimos citando, destaca ainda edifícios que, não sendo evidentemente salas de espetáculo, expressam uma vocação funcional de grande ajuntamento de participantes, e como tal exigem o sentido de “assistência coletiva”, chamemos-lhe assim, que as salas de espetáculo representam.
E desde logo o chamado na época Palácio das Cortes, em São Bento, como tal inaugurado em 1833 mas totalmente reformulado por Ventura Terra em 1885/1886, numa modernização epocal que dura até hoje e que incluiu o desenho do mobiliário e do equipamento, então extremamente atual.
Em 1902 surge a Sinagoga de Lisboa aliás muito próxima da casa do próprio Ventura Terra, casa que lhe valeu o Prémio Valmor de 1903.
O catálogo da exposição documenta também um esplendoroso projeto de Palácio do Congresso do Rio de Janeiro, que não chegou a ser construído.
E finalmente, refere os Liceus Camões (1907) e Maria Amália Vaz de Carvalho (1915), o que pode ser relacionado com o carater coletivo das “exibições” dos professores…
O catálogo da exposição, para além de estudos diversos, contem uma exaustiva tabela cronológica da vida e obra de Ventura Terra. Aí encontramos as funções político-administrativas que ao longo da vida desempenhou, com destaque para a Câmara Municipal de Lisboa, onde foi vereador por iniciativa de Bernardino Machado, de 1908 a 1913 e novamente em 1917.
No quadro dessas funções, remete-se para um documento da CML, datado de 28 de Agosto de 1909 e citado por Rute Figueiredo no seu estudo sobre “Arquitetura e Discurso Crítico em Portugal (1893-1918). – (ed. Colibri e HIA – FCSH da UNL págs. 252-252).
Lê-se no referido documento:
“Tendo a Câmara Municipal de Lisboa na sessão de 12 do corrente, tomado em consideração uma proposta do Ex.mo Sr. Vereador Ventura Terra a fim de melhorar quanto possível os serviços relativos à estética da cidade de Lisboa e o seu conforto sob o ponto de vista artístico, principalmente no que respeita à construção e conclusão de avenidas, praças, jardins, etc., e ao aproveitamento das suas magníficas perspetivas, foi pela mesma Câmara criada Cuma Comissão de Estética Municipal.
Ora, nessas “magníficas perspetivas” se inscrevem os teatros de Ventura Terra, e não só em Lisboa!...
DUARTE IVO CRUZ